1976: o boicote nas Olímpíadas e a prisão de Gilberto Gil
No ano de 1976, Alexandre Queiroz publicava semanalmente no jornal joaçabense Cruzeiro do Sul uma coluna comentando os acontecimentos do momento.
O post de hoje tem excertos de publicações suas do mês de julho daquele ano, os quais revelam fatos curiosos da história do Brasil e do mundo.
Jogos Olímpicos
Por não ter sido excluída a Nova Zelândia, que mantém relações esportivas com o regime de minoria branca da África do Sul*, 26 países africanos se retiraram dos Jogos Olímpicos que ora se realizam no Canadá, como protesto.
A ONU, pela seu Secretário Geral, Kurt Waldheim, solicitou, em vão, a volta dos países africanos, e o COI (Comitê Olímpico Internacional) estuda a possibilidade de puni-los.
Mas com que moral?
Deixando de punir o Canadá, país anfitrião, que, contrariando os Estatutos dos Jogos Olímpicos e os compromissos anteriormente assumidos com o COI, não permitiu que Formosa** participasse com o seu próprio nome, direito de escolha que somente compete ao próprio país e não a outrem – como é que pode o COI querer punir a conduta dos africanos, estejam ou não estes errados?
Com as pessoas e com as nações os princípios de moral – que não são formulados por nenhum poder constituído, mas pelo consenso universal – são os mesmos: quem não procede corretamente sofre, inapelavelmente, as consequências do mau procedimento.
Se o COI tivesse agido corretamente no caso de Formosa, poderia pensar em punir os africanos. Mas, se assim não fez, falta-lhe moral para tanto. E para isso temos certeza que não fará, por maior que seja a vontade e mesmo o direito de fazê-lo. A não ser que seja pela violência ou pelo direito da força.
*Nota do blog. Lê-se na Wikipedia: “Estes foram os primeiros Jogos marcados por um grande boicote. Lideradas pela República do Congo, 26 nações africanas, o Iraque e a Guiana se recusaram a participar deles, em protesto pelo COI não suspender a Nova Zelândia, que havia autorizado sua seleção nacional de rugby a excursionar pela África do Sul, que se encontrava suspensa da comunidade internacional por causa da política racista do Apartheid.” A justificativa do COI para tal – lemos em outro lugar – foi que o rugby não era um esporte olímpico, então não haveria motivos para suspender a participação da Nova Zelândia nos jogos.
**Nota do blog. Formosa é Taiwan, que desde 1945 tem estado sob o regime político da República da China. Parece que a questão, na realidade, foi bem além do nome: Canadá não admitiu a participação de Formosa como república independente para não se indispor com a poderosa China comunista.
Justiça Moderna
Ao leigo seria difícil explicar, e mais difícil ainda convencê-lo, de que nem toda lei é justa e de que nem toda justiça está contida dentro de uma lei. Lei e justiça não se confundem, como não se confundem direito e moral.
A recente decisão do juiz de Florianópolis, Dr. Ernani Palma Ribeiro, detendo o cantor Gilberto Gil por porte e uso de maconha, mas, por outro lado, permitindo que ele fosse cantar, sob custódia, no festival programado para aquela noite de sua prisão, pelo fundamento de não causar mal maior à sociedade, com a não realização do festival, é uma decisão que enobreceria qualquer juiz que a proferisse.
O juiz Palma Ribeiro teve a clarividência do estadista e não se apegou tacanhamente ao texto frio da lei, o que justifica que lhe mandemos daqui os nossos sinceros parabéns.
Guerra e paz
Dois alistados da Legião Estrangeira trocam impressões:
– Por que você se alistou?
– Porque sou solteiro e gosto de guerra. E você?
– Porque sou casado e gosto de paz…
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