Memórias de Alexandre Queiroz
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Entre mulheres III

25/05/2017Cartas, Os contemporâneos

No post de hoje, carta de Yvonne, irmã de Alexandre, para Dulce, esposa de Alexandre.

À época da carta Yvonne tinhas duas filhas: Rita (nascida em 1942) e Beatriz (1944). E Dulce também tinha dois filhos: Perpétua (1942) e Diomário (1944). Ambas estavam novamente grávidas.

A carta, como é de se esperar, revela o mundo feminino da época. Aproveitando o “clima” do mês das mães, queremos chamar a atenção para as questões de maternidade que a carta expõe. A verdade é que, embora o mundo das mulheres hoje cada vez mais não se restrinja somente a questões maternais, não há mãe, de hoje ou de ontem, que não vá se identificar com esta “conversa” travada entre mulheres há mais de meio século.

Deleite-se!

***

Esplanada, 10 de abril de 1945

 

Querida Dulce

 

Saúde e paz é o que desejo a você e todos os seus.

José veio a semana passada da Bahia [referência a Salvador] e trouxe-me uma cartinha sua do dia 4 de março que respondo. Fiquei muito contente com sua carta, pois há muito que não tinha notícias de vocês.

Fiquei satisfeita ao saber que você tem gostado de Itambé e que todos estão bem de saúde; Deus permita que continuem assim.

A vida em Itambé está mais barata do que aqui; imagine que ovos estamos comprando a 5,00 a dúzia, leite a 1,00 o litro, requeijão a 10,00, manteiga (que vem das fazendas) a 20$000 o quilo, manteiga de lata a 32,00 o quilo, carne sertão a 15,00 e assim por diante.

Como vai de gravidez? Quando espera ter? N. Senhora que lhê dê um bom parto. Graças a Deus eu continuo em “paz”, mas se tivesse certeza que agora viria um homenzinho… Mas é bom eu me acomodar, pois, com esta vida de cigano que eu tenho, criança é só para atrapalhar. Se ao menos Yayá ficasse sempre comigo eu não dizia nada, mas, não sei se você já sabe, Anna está grávida, tem criança em setembro, de forma que em agosto Yayá vai embora para assistir o parto e eu vou ficar sem esta ótima companheira que me ajuda tanto. O pior é que depois do parto ela não vem mais, pois não quer ir para nada para o Conde, com receio de impaludismo.

As meninas estão boas. Beatriz está muito gordinha e engraçada, já fica em pé soltinha, anda a casa toda segurando nas paredes, parece que tem medo de andar solta. Já chama “mamãe”, “pai dela”, “Yayá”, “nenê”, “aga” (água), o resto é uma embrulhada que não se entende. José está bobinho com esta. Ritinha é a minha, só você vendo como ela é meiga, carinhosa e muito obediente; ela está ficando muito conversadeira e cheia de ditados.

Xande disse que Perpétua é perigosa. E o Diomário? Beatriz parece que vai ser mais peralta do que Rita.

José trouxe um filme da Bahia, tiramos vários retratinhos das meninas, mandei revelar, quando vierem vou mandar uns para vocês. Só peço é que acuse logo o recebimento para eu saber que foram entregues.

Mande-me dizer quando o Diomário nasceu, não sei se foi no dia 11 ou 12 de abril. No aniversário de Beatriz, eu não pude fazer nada, pois foi quinta-feira santa. Assim mesmo, os vizinhos que sabiam vieram. José deu de presente uma pulseira de ouro linda, toda de medalhas de santo, um boneco que chama mamãe (é tão bonito que eu guardei) e um sapato azul. Eu dei um vestido, combinação e calça, tudo pronto; fiz o vestido de cintura dando o laço nas costas. Ela ficou uma gracinha.

Fomos sempre à Bahia. Passamos lá Bonfim e Carnaval. As meninas não gozaram nada do passeio, pois ficaram cheias de feridas, só você vendo que horror. Gastamos um dinheirão de remédios e nada, só ficaram boas depois que chegaram aqui.

Assim mesmo, eu passeei bastante. Fui várias vezes à Feira de Amostras, Festa da Mocidade, cinemas, etc. Tratei meus dentes e visitei os conhecidos. Também há sete meses que eu estava fora, agora tão cedo não irei lá, salvo algum imprevisto. Noelia não voltou comigo, ficou para tratar os dentes. Estive na Bahia e não vi tia Zizi, pois ela ainda estava na Mata de S. João.

Soube que Léa está quase boa. Didi coitada é que ainda não se sabe quando voltará de Carnaíba. Otávio de tio Xande estava muito pior, não sei se morreu.

Ainda tinha muita coisa para lhe contar, mas  já estou cansada de escrever, porém como tenho de mandar os retratos, nesse dia escreverei contando o resto.

Abraços para Xande e beijos nos meninos. Yayá e José enviam lembranças.

Abraça-a a cunhada muito amiga

Yvonne

***

P.S. O filho de Dulce, Enéas, nasceu em julho daquele ano. O filho de Yvonne era um menino, Ricardo, mas nasceu morto…

Comments

MARIA TEREZA DE QUEIROZ PIACENTINI 25/05/2017 at 23:02 - Responder

Genial a carta, cheia de detalhes! Mas triste o desfecho da gravidez da tia Yvonne.

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