Jaraguá do Sul: o município aos 5 anos
Quem acompanha o blog já sabe que Alexandre Queiroz e seus irmãos se comunicavam bastante por cartas!
No post de hoje, carta enviada pelo seu irmão mais velho, Manoel, que era Promotor Público e tinha acabado de se mudar com a esposa para a cidade de Jaraguá do Sul/SC (que à época se chamava apenas Jaraguá, município emancipado de Joinville em 1934 – em 1943 “do Sul” foi acrescentado ao nome da cidade por já haver uma Jaraguá no Estado de Goiás). Na carta, um belo registro histórico do município que nos revela quais os sinais de progresso da época.
Alexandre estava estudando Direito na Bahia, no penúltimo ano, já envolvido em práticas de ações judiciais, como se vê na carta! Também já tinha conhecido Dulce nas férias de verão uns meses antes em Tubarão/SC.
Aqui no blog é assim: cada carta um deleite…. memórias que fazem história!
“Jaraguá, 23 de agosto de 1939.
Dr. Alexandre:
Desde o dia 14 do corrente, estou no exercício do cargo de Promotor Público desta minha nova Comarca de Jaraguá…
Escrevi, ou melhor, lhe mandei, quando de minha passagem por Florianópolis, um postal enviando minhas notícias, fazendo-o ciente de minha transferência, e dando novas da d. Dulce. Recebeu?
Você conhece Jaraguá? Se não o conhece, deverá fazê-lo, no fim do ano ou na vinda da Bahia, ou então na volta. Talvez na volta seja melhor. Espero passar uns dias, em dezembro, no Mar Grosso e é possível que lá nos encontremos…
Jaraguá é uma cidade nova mas de grande progresso e de rápido desenvolvimento. Colonização alemã. Tenho gostado. Melhor que Urussanga. Já rende o Município muito mais do que a Laguna e mesmo mais do que o “seu” querido Tubarão… Por aí você poderá avaliar a vitalidade da região onde vivo.
Blumenau é uma bela cidade. Apenas lá estive uma hora, mas dentro de um mês lá espero passar uns dias com a d. Clotilde [esposa de Manoel].
Temos ótima luz, dia e noite, e força. O meu rádio funciona de acordo com os meus desejos… Cinema, bons cafés e sorveterias, manicure e cabeleireiras bem montadas. Jornais do mesmo dia de Joinville e Curitiba. Temos aqui um jornal: O Correio do Povo. Muito movimento de automóvel etc.
Escrevo-lhe ao som do rádio, ouvindo a estação de Blumenau. Estou no Hotel Central. Só os hotéis não são bons, mas dentro de oito meses teremos um formidável, cuja construção já está iniciada. Temos um Banco Agrícola e Comercial, onde já abri caderneta…
Tenho duas cartas suas, sendo que uma recebida hoje e datada de 2 do corrente e acompanhada de uma de nossa querida Teté.
Meus parabéns pelas belíssimas provas parciais, isto é, pelo feliz resultado delas para você. Sobretudo para quem bem pouco diz ter estudado este ano…
Recebi e penso já ter acusado o n. 30 na 6 da “Revista dos Tribunais”.
Está atrapalhado com o processo prático da Ação de Reivindicação, hein? Que coincidência: a tal questão que ganhei na primeira instância e ainda em grau de recurso no Tribunal de Apelação do Estado é exatamente uma ação de reivindicação, apenas com a diferença que você é advogado dos AA e eu fui do RR, e de que lá é brincadeira e aqui foi coisa séria. Ganhei na primeira instância ganharei, na certa, espero, na segunda, no Tribunal.
Soube da notícia a respeito da situação do José [primo e marido da irmã Yvonne], como chefe da Est. Fer. Nazaré: Aguardemos os acontecimentos.
Aqui estamos com saúde, felizmente.
Vim para aqui porque quis… não pense que foi ato ditatorial. Quando lhe mandei dizer que estava “firme”, queria dizer com o Governo, pois tenho sido muito bem tratado pelo dr. Nereu. Todavia esperava ir para São Bento. Aqui é 2ª Entrância.
Escreva-me sempre. Lembranças para todos os nossos.
Um abraço da Quidinha e outro do irmão e amigo certo:
Manoel
P.S.: Procure ler “Das Ações de Reivindicação” de Afonso Dionisio da Gama. Eu tenho um exemplar. É bom.”
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