Ricos e Pobres
Por Alexandre Muniz de Queiroz
(publicado no Joaçaba-Jornal em 12/5/1979)
Sob um ponto de vista bem diferente, muito se tem falado, ultimamente, sobre o assunto.
Algo delicado, profundo e transcendental, não seria numa crônica de jornal, que primamos em não ser longa, que haveríamos de querer resolvê-lo, ou, com mais petulância ainda, pôr um ponto-final nos debates em torno do mesmo. Estes continuarão indefinidamente, como parece ser o destino dos homens: uns mais ricos e mais pobres que os outros, até a consumação dos séculos.
Por isso, hoje, vamos contar apenas uma breve passagem do nosso tempo de menino, que se situa bem no quadro em foco e que poderá ser útil à meditação de alguns, já esquecidos ou afastados dos velhos princípios, que eram a fonte de toda a sabedoria humana e que faziam a felicidade dos homens.
Morávamos em Salvador, Bahia, no Porto do Bonfim, Itapagipe, e tínhamos como vizinho o Dr. Rodolfo Dória, farmacêutico, um dos homens mais ricos da Cidade e casado com ilustre Senhora, “fino ornamento da mais alta sociedade baiana”.
O casal tinha dois filhos. Uma menina, mais velha, que logo se casou; e um rapaz, chamado Renato, um ou dois anos mais velho do que eu – o caçula dos irmãos – e um ou dois anos mais moço que meu irmão mais velho, Manoel Lobão Muniz de Queiroz, atualmente residindo em Florianópolis.
Nosso pai era engenheiro civil, funcionário público federal, e, como tal, apesar do elevado cargo que ocupava, pobre, como pobres, salvo raras exceções, eram todos os funcionários públicos daquela época, mesmo os federais.
Renato, como se fora filho único, criado com todos os dengos e fartura que as condições econômicas dos seus pais permitiam, era um “pavor” para comer: de nada gostava, nada queria, de tudo estava enjoado.
Para suprir esta sua falta de apetite, a Mãe lhe comprava, todos os dias, além de outros quitutes especiais, peras, maçãs e uvas, naqueles tempos vindas diretamente da Europa.
Mesmo destas frutas, deliciosas e caras, o filho enjoou.
E então, nas horas certas das merendas e repastos, lá vinham os gritos carinhosos da ilustre Mãe:
– Renato, já comeu tudo?
– Sim, Mãe!
– Mostre-me aqui!
E Renato mostrava as mãos vazias…
Mas é que, às escondidas e para se livrar das frutas, antes ele já as havia distribuído conosco, que éramos quatro, não tínhamos problemas para comer, não ganhávamos merendas nas horas certas, não tínhamos dinheiro para comprar guloseimas, e, por isso, até hoje, decorridos mais de 50 anos (sim, cinquenta anos!), com água na boca, ainda sentimos o imenso prazer de saboreá-las, como jamais ocorreu com as que futuramente viríamos a adquirir com o nosso próprio dinheiro…
Moral da história: Nem sempre os mais ricos são os mais felizes!
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