Um cartão, muita história
Este cartão-postal talvez seja o documento mais antigo de todo o nosso acervo. Datado de 6 de novembro de 1911, Ritta, mãe de Alexandre, escreveu à sua irmã mais nova, Zizi.
Tendo nascido em maio de 1893, Ritta tinha então 18 anos. Casada com Enéas desde os 17 – o matrimônio realizou-se em meados de 1910 –, Ritta já tinha passado pela tristeza de perder um filho. Seu primogênito, a quem o casal chamou de Manoel Raymundo, faleceu provavelmente no começo de abril de 1911. Não se sabe quantos dias ou meses de vida tinha, nem qual foi a causa da morte, mas no verso da foto abaixo, em que o bebê já está falecido, no seu caixão, consta a data de 5 de abril de 1911:
Uns meses depois, em outubro daquele ano, Ritta engravidou de novo. Manoel nasceu em junho de 1912 e teve uma vida próspera até 1996, mas isso já é assunto para outro post!
No cartão-postal, lê-se:
“Zizi,
Recebemos o seu presente, que muito agradecemos. Me escreva sempre contando tudo que passa pela nossa Valença, que eu gosto muito de saber o que vai se passando por aí.
Adeus, aceite um bem apertado abraço de sua irmã e amiga,
Rittinha”
(reparem que no endereço consta apenas “Casa Cel. José Muniz Sª Sobrinho”, pai das meninas!)
Na frente do cartão, retrato de uma pintura de 1807, acervo do Palácio de Versailles, em Paris, que foi decretado museu pelo rei Luis Filipe em 1830:
Apesar de o cartão ser francês, Ritta o escreveu desde a localidade de Esplanada, na Bahia, que foi promovida a vila em 1912, e a cidade oficialmente só em 1931. Considerando que sobretudo a partir de 1909 a cidade se desenvolveu por causa da estrada de ferro Bahia-São Francisco, e tendo em conta que Enéas era engenheiro civil conhecido por seu trabalho em diversas ferrovias do país (chegou mais tarde a Engenheiro-Chefe da 1ª Fiscalização Federal das Estradas de Ferro), imaginamos que nessa época talvez o casal estivesse morando em Esplanada, para onde foram diversas autoridades, negociantes e cartórios de justiça. De qualquer forma, não deve ter sido muito longo o período de residência da família nesse arraial, como ainda era chamada em 1911, visto que quando seu filho Manoel nasceu, em junho do ano seguinte, já estavam em Valença, também no estado da Bahia. Ficamos a imaginar que talvez a família tenha voltado a Valença porque justamente no segundo semestre de 1911 a ferrovia passou a ser administrada pela empresa franco-belga Compagnie des Chemins de Fer Fédéraux de l’Est Brésilien, o que pode ter alocado Enéas para outros serviços. Infelizmente não temos registros comprovando se Enéas no começo de sua carreira (em 1911 ele tinha 26 anos) de fato trabalhava para a Companhia Viação Geral da Bahia, empresa responsável pela estrada de ferro antes do contrato assinado com a companhia europeia. Mas são especulações que dão sentido aos fatos que temos.
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